Ao contrário do peixe que nos é
vendido pela propaganda oficial, que insiste em afirmar que o Brasil está
ótimo, em franco crescimento e muito estável economicamente, a recessão está
pegando pesado. O comércio não chegou ao ponto de congelamento, mas está a dois
traços do zero. E o setor automobilístico, como não poderia deixar de ser, é um
dos mais afetados. A maneira mais prática de se constatar essa realidade é
observar os pátios das mais de 5.000 concessionárias espalhadas pelo país.
Campanhas promocionais incessantes, ofertas de juros zero, financiamento sem
entrada e a perder de vista, valores absurdos pagos pelos usados na troca, que
depois de uma maquiagem viram semi-novos (?), são imediatamente transformados
nos conhecidos “repasses” empurrados para os comerciantes particulares, já
atulhados de carros em suas lojas, e fazem a alegria dos caixas de emissoras de
televisão, jornais, revistas, sites, panfleteiros e afins; nessa
guerra-de-foice-no-escuro, tudo é válido para que as concessionárias consigam
se livrar de seus estoques e encalhes (aqueles modelos que ninguém quer, nem
como prêmio de shopping) principalmente porque essas concessionárias precisam,
desesperadamente, fugir de uma corda-no-pescoço chamada Floor-Plan, coisa que a
maioria dos simples mortais desconhecem, mas que leva muita gente graúda à
falência.
O Floor-Plan é uma prática
corriqueira entre as montadoras e as concessionárias. Tão corriqueira quanto
ilegal. Ilegal por ser infrativa à ordem econômica, por ser venda casada,
desrespeito ao mix (proporção de modelos bons de comércio com os conhecidos
“sapatos-velhos” que ninguém quer), determinação compulsória de compra pela
concessionária, cobrança de encargos financeiros sobre tributos aos quais ainda
não se realizou o fato gerador, incidência de encargos financeiros sobre
veículos ainda não entregues, venda de peças por preços abusivamente acima dos
praticados no mercado independente de autopeças (do mesmo fornecedor), e,
independente da procura, o “empurra” de mais e mais demanda de oferta às
concessionárias, que arcam com os custos do estoque encalhado, produzindo-se
uma situação artificial de mercado, onde os preços não baixam, já que a rede de
concessionárias atua como financiador de margem de risco à montadora. E ninguém
sabe disso? Nenhum órgão regulador fiscaliza ou, sequer, imagina que as montadoras,
em desrespeito ao contrato de concessão (e aos termos da Lei n.º 6.729/79) determinam
a compra compulsória pela concessionária
da quantidade de veículos por mês que lhe for estipulada? Que o banco da
montadora, tão logo recebe a fatura de venda à vista da montadora à
concessionária, credita àquela e debita a esta o valor correspondente? Que a
montadora, após remeter a fatura ao banco e receber o respectivo valor, se
compromete a entregar em até um dia os veículos vendidos na empresa encarregada
de transportá-los a concessionária, sendo de até cinco dias o prazo de entrega
da transportadora na concessionária? Estranho ninguém saber de nada, se até eu
que sou bobo sei... mas também, por outro lado, as montadoras tem de se virar
para conseguir pagar, por exemplo, algo tão absurdo quanto os U$24,8 bilhões de
Dólares em impostos (IPI, ICMS, PIS e Cofins) como pagou em 2012. Pra onde foi
tamanha fortuna? Sabe-se lá... o que se sabe é que as montadoras tem um imenso
custo fixo, são esfoladas em impostos... igualzinho as concessionárias... que
repassam tudo isso ao consumidor final... que é quem, no final das contas, paga
o pato. Ou, melhor dizendo, não consegue pagar, perde o bem, que é recolhido
pela financeira e vai a leilão, que ninguém vai querer comprar porque as
financeiras e as seguradoras se recusam a operar com veículos “sinistrados”, e
os veículos ou viram base de clone para as quadrilhas de roubos de carros, ou
vão para o desmanche.
Este ou aquele estando certo, aquele
ou esse estando errado, o fato é que a indústria automobilística nacional esta
entrando em queda livre. Não temos uma Moeda competitiva, nossas exportações
são pequenas e, diga-se de passagem, nenhum “cliente” nosso é um mercado
importante e/ou exigente. Analisando-se os dados do setor neste semestre, e
montando-se uma estatística direta e real, os números mostram claramente a
realidade mencionada no início. De janeiro a junho, foram produzidos 1.408.928
veículos de passeio e 311.668 utilitários leves no Brasil, o que dá um total de
1.720.596 unidades. Desse total, foram emplacados 1.073.005 veículos de passeio
e 274.809 utilitários leves, somando 1.347.814 unidades. A matemática pura diz
que, então, sobraram 335.923 automóveis de passeio e 36.859 utilitários leves,
num total de 372.782 unidades. Não exatamente. Nesse período, foram exportados
194.097 automóveis de passeio e 57.076 utilitários leves, o que significa
251.173 unidades. Agora, sim, temos a dimensão do que sobrou, ou seja, 121.609
veículos que atulharam – e grande parte ainda atulha – os pátios das montadoras
e concessionárias. Por outro lado, o Brasil importou no semestre 252.845
automóveis de passeio e 108.853 utilitários, que somam juntos 361.698 unidades.
Esse fator corrobora a tese de que nossos veículos não são lá de grande
interesse internacional, uma vez que exportamos 110.525 unidades a menos do que
importamos. Como importar não significa, necessariamente, que esses veículos
foram comercializados, está aí a explicação do porque as importadoras também
estarem entupidas de veículos em seus estoques.
Antes que alguém me aponte um dedo
torto e pergunte, não, eu não tenho nenhuma solução mágica, nem cartola pra
tirar algum coelho que resolva (nem sou pago para isso), de imediato, essa
situação, que só tende a se agravar e atrapalhar o andamento de todos os demais
setores da economia nacional – o setor automobilístico respondeu, em 2012, por
nada menos que 21% do PIB e empregou mais de 1,5 milhões de pessoas. Mas tem
gente, do outro lado dos balcões, que sabe e pode fazer o que é preciso para se
reverter esse quadro que vemos. Mesmo sendo um absurdo o volume de impostos
pagos, não deve ser um péssimo negócio ser uma montadora ou concessionária,
senão não teriam tantas. Mudar o sistema atual de impostos, onde se tributa
diversas vezes um mesmo produto, tarifas extorsivas para importação, toda a
carga tributária que cada funcionário representa, juros bancários tão absurdos
quanto impraticáveis, enfim, pontos pertinentes por onde começar a trabalhar e
chegar num resultado final satisfatório não faltam. Basta querer.
ESTATÍSTICAS
|
|||||||||
|
Volume
|
Volume
|
Volume
|
Vendas
|
Vendas
|
Vendas
|
Vendas
|
Total
|
Total
|
True
|
Produção
|
Produção
|
Produção
|
Internas
|
Internas
|
Internas
|
Internas
|
Vendas
|
Vendas
|
Car
|
Automóveis
|
Utilitários
|
Total
|
Automóveis
|
Utilitários
|
Automóveis
|
Utilitários
|
Internas
|
Internas
|
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Nacional
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Importados
|
Importados
|
Nacionais
|
Importados
|
Janeiro
|
219.650
|
43.855
|
263.505
|
182.261
|
47.116
|
49.082
|
18.728
|
229.377
|
67.810
|
Fevereiro
|
173.503
|
38.855
|
212.358
|
137.053
|
36.098
|
35.027
|
14.552
|
173.151
|
49.579
|
Março
|
246.186
|
52.187
|
298.373
|
171.443
|
42.335
|
38.354
|
16.456
|
213.778
|
54.810
|
Abril
|
257.558
|
61.480
|
319.038
|
199.498
|
50.343
|
46.881
|
20.258
|
249.841
|
67.139
|
Maio
|
269.203
|
58.570
|
327.773
|
191.185
|
48.202
|
41.789
|
19.764
|
239.387
|
61.553
|
Junho
|
242.828
|
56.721
|
299.549
|
191.565
|
50.715
|
41.712
|
19.095
|
242.280
|
60.807
|
Total
|
1.408.928
|
311.668
|
1.720.596
|
1.073.005
|
274.809
|
252.845
|
108.853
|
1.347.814
|
361.698
|
|
Total
|
Excedente
|
Excedente
|
Total
|
Volume
|
Volume
|
Volume
|
Total
|
Estoque
|
True
|
Vendas
|
Prod/Vendas
|
Prod/Vendas
|
Excedente
|
Exportação
|
Exportação
|
Exportação
|
Vendas/Int.
|
Restante
|
Car
|
Internas
|
Automóveis
|
Utilitários
|
Prod/Vendas
|
Automóveis
|
Utilitários
|
Nacionais
|
Exportação
|
Nacionais
|
|
Todos
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Nacionais
|
Todos
|
Todos
|
Todos
|
Janeiro
|
297.187
|
37.389
|
-3.261
|
34.128
|
26.223
|
8.115
|
34.338
|
331.525
|
-210
|
Fevereiro
|
222.730
|
36.450
|
2.757
|
39.207
|
20.808
|
9.377
|
30.185
|
252.915
|
9.022
|
Março
|
268.588
|
74.743
|
9.852
|
84.595
|
30.085
|
10.806
|
40.891
|
309.479
|
43.704
|
Abril
|
316.980
|
58.060
|
11.137
|
69.197
|
39.966
|
12.573
|
52.539
|
369.519
|
16.658
|
Maio
|
300.940
|
78.018
|
10.368
|
88.386
|
35.916
|
9.499
|
45.415
|
346.355
|
42.971
|
Junho
|
303.087
|
51.263
|
6.006
|
57.269
|
41.099
|
6.706
|
47.805
|
350.892
|
9.464
|
Total
|
1.709.512
|
335.923
|
36.859
|
372.782
|
194.097
|
57.076
|
251.173
|
1.960.685
|
121.609
|
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