segunda-feira, 8 de julho de 2013

COMBUSTÍVEIS: O BRASIL NA CONTRA MÃO!


O Brasil insiste em andar na contramão. Não por falta de tecnologia ou conhecimento de causa, mas simplesmente por interesses políticos, que nos arrastam para a Idade da Pedra na corrida desenfreada em que a indústria automobilística se transformou nos últimos anos, e deram principalmente à China o gigantesco impulso econômico, colocando o país no cenário dos mais poderosos e com maior poder de compra do mundo. Enquanto todos os grandes fabricantes voltam os olhos para o continente asiático, a América do Sul permanece relegada ao ostracismo e depósito de sucatas antiquadas e/ou rejeitadas pelo Mundo Civilizado, principalmente o Brasil, que tudo aceita no mais bovino conformismo, enganado por uma vil propaganda enganosa que tenta nos fazer crer sermos alguma coisa melhor do que realmente somos aos olhos do mundo dos negócios. Não, não se trata de “síndrome de vira-latas”, como alguns gostam de classificar quem não se contenta com desculpas esfarrapadas. Trata-se de trazer à tona os interesses financeiros de grupos que entendem que, quanto mais atrasado o país, melhor para seus bolsos.

Fomos o país que mais investiu e se dedicou ao emprego do Álcool (agora chamado pelo seu nome técnico, Etanol) combustível, quando apareceu pela primeira vez o fantasma do final do petróleo no mundo, na verdade um grande golpe dos principais produtores do Oriente Médio para subir o valor do produto no mercado. Foi um alvoroço. Na época, a tecnologia era péssima, os motores não se entendiam com o combustível, a produção era pequena mas, com a insistência necessária, o Brasil dominou totalmente o controle de um combustível que os alemães já haviam empregado com amplo sucesso para impulsionar as temíveis bombas V1 e V2. “Manjamos” tanto do assunto que conseguimos substituir o chumbo tetraetila pelo álcool, como aditivo anti pré-detonante. Atualmente, o Brasil também domina com folga a ciência do Bio-Etanol, uma vez que a tecnologia desta “segunda geração” de produção de etanol é diferente quando comparada com a forma tradicional e secular, que é apenas fermentar o caldo dos vegetais que possuem açúcares. Agora, nãos mais se utiliza o açúcar simples contido na seiva, mas através da hidrólise, transforma-se a “madeira” da planta em açúcar simples, para fermentação e produção de etanol. A vantagem? É imensa! No caso da cana-de-açúcar, 1/3 da glicose produzida está no caldo e 2/3 vai para a síntese da celulose (1/3 no bagaço + 1/3 nas palhas e pontas), um polissacarídeo formado por 10.000 moléculas de glicose ligadas, e a maior parte da glicose sintetizada pelo vegetal é fixada na forma de celulose. Resultado? Aumento incomparável de rendimento com a mesma matéria prima, menor custo de produção e nenhum único centavo de redução do preço ao consumidor, pelo contrário. Desde setembro de 2009, o preço do Etanol não para de subir, com aumento médio de 29% em todo o país. Então, se empregam uma tecnologia em que se extrai mais do mesmo, porque os valores sobem, ao invés de caírem? Por ganância. Existe todo um “sistema” que envolve as usinas de Álcool que, ao que parece, apenas as autoridades não tem conhecimento. O produto é vendido em duas maneiras, Anidro e Hidratado. Anidro é quando o cliente compra o produto e se encarrega da mistura necessária com a água. Existe uma proporção correta para essa diluição, e sabendo-se disso, fica-se mais fácil entender os “descontos” com que usuários que gostam de levar vantagem em tudo abastecem e detonam seus carros. Da fila do abastecimento das carretas transportadoras aos postos de combustível, muita coisa pode acontecer... e normalmente acontece. Uma carreta com capacidade para 30.000 litros de combustível jamais é carregada plenamente. Essa “sobra” é guardada e revendida. Existem dois tipos de nota fiscal para compra do produto, a Nota de Acompanhamento, que só serve para que o mesmo seja levado do ponto A ao ponto B, e a Nota de Registro, que serve para confirmar a compra do produto pelo posto de combustível. O fato de “ser” uma distribuidora, não significa que a sede não passe de um escritório vendedor de notas dos dois tipos. Lembra-se da “sobra” das cargas? Então... descobrir tudo o que pode – e acontece – nessas negociações é uma excelente maneira de as autoridades conseguirem forçar para baixo o valor final do Etanol para o consumidor. Resta ver se interessa fazer isso. 

Muito bem, já sabendo que até mesmo com o que foi desenvolvido e criado aqui, continuamos reféns da produção e pagamento de royalties ou da importação de combustíveis fósseis, vem a pergunta: se o óleo diesel é, reconhecidamente, mais eficiente, menos poluente, mais barato e a tecnologia de sua produção avançou também para os laboratórios, porque apenas nós, brasileiros, somos obrigados a engolir goela abaixo apenas as alternativas gasolina, etanol ou gnv? Novamente, por ganância de um pequeno grupo, um “clube fechado”.

A legislação que proíbe a utilização de óleo diesel em carros de passeio é a mesma aplicada aos veículos de carga com capacidade inferior a mil quilos ou utilitários com tração 4x2. Enquanto uma minoria no poder tenta derrubá-la, uma esmagadora maioria tenta aumentar ainda mais sua restrição. A desculpa oficial acatada pelos brasileiros é de que o país é muito dependente do transporte rodoviário, e que praticamente todo o óleo diesel refinado no país é para a utilização em caminhões, e por isso o produto conta com subsídios financeiros e benefícios tributários. Papo mais furado, não existe. Essa proibição está em vigor desde 1976, sob a alegação de reduzir-se a dependência do petróleo importado, outro papo-furado, uma vez que a ideia era incentivar a produção e comercialização de veículos movidos a Álcool, pelo programa Pró-Álcool. Coincidência, não? O combustível que dominamos, cuja produção é restrita a um seleto grupo de empresários principalmente paulistas e paranaenses, é o mesmo que impede a liberação de um combustível com muito melhor aproveitamento, onde alguns parlamentares ainda alegam que “óleo diesel nacional ainda possui elevados teores de enxofre”, além de outros poluentes, como se não fosse obrigação dos próprios parlamentares implementarem de uma vez uma legislação que empurram com a barriga, que determina as porcentagens corretas de tudo o que se mistura ao diesel. Assim, nenhuma montadora que se preze vai se arriscar a importar seus modelos ultra-modernos a diesel, porque vão quebrar e quem vai ficar com fama ruim são elas. Outra coincidência inexplicável, uma vez que o Brasil é um dos maiores líderes mundiais na tecnologia dos sistemas bicombustíveis... além do outro engodo propagado pelos parlamentares, de que o Brasil não investe no desenvolvimento de veículos compactos a diesel, cuja demanda está em alta, principalmente na Europa e EUA, e isso tornaria difícil a exportação da produção. Um parlamentar afirma isso, de duas uma: ou é um completo alienado, ou ganha alguma coisa para afirmar tamanha asneira. Se visitar qualquer unidade fabril de motores, principalmente as “Quatro Grandes”, descobrirá onde são fabricados os motores e, muitas vezes, os carros inteiros, comercializados lá fora.
Por outro lado, se dominamos a tecnologia do Bio-Etanol, teoricamente recente, como não dominaríamos a ciência da  transesterificação de um óleo vegetal, cujo processo foi realizado pela primeira vez por Patrick Duffy em 1853, muito antes de Rudolf Diesel ligar seu primeiro motor, em 1893, abastecido com óleo de amendoim? O termo Biodiesel refere-se ao combustível formado por ésteres de ácidos graxos, ésteres alquila e ácidos carboxílicos de cadeia longa, definindo um combustível renovável e biodegradável, obtido comumente a partir da reação química de lipídios, óleos ou gorduras, de origem animal ou vegetal, com um álcool na presença de um catalisador, que é justamente a transesterificação, ou por meio do craqueamento e esterificação. Pode ser misturado ao diesel convencional ou usado puro. Uma tentativa de produção andou sendo incentivada recentemente, mas a corrupção e a total falta de garantia levou os produtores a focarem outros setores. Não fossem esses entraves tão característicos do Brasil, o Óleo Diesel nacional seria decente, o Bio-Diesel “limparia” o que restasse do Diesel de baixa qualidade oferecido nos postos e comercializaríamos aqui o que aqui mesmo é produzido.
Na teoria, tudo simples de se resolver. Na prática... talvez, se um dia a seriedade se implantar soberana onde deveriam se eliminam leis escravagistas e fazer algo pelo povo. 


Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com

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