Nada como um país que passou pelas
piores dificuldades, para entender o que se deve fazer e se tornar grande e
respeitado. Nada como as empresas desse país terem tirado dessas dificuldades
as lições para se tornarem as maiores do mundo. Que o diga o Japão, por
exemplo, completamente devastado após a II Guerra Mundial, que só teve sua
soberania devolvida em 1951, mesmo ano em que iniciou sua reabilitação
econômica. Na década de 1960, o pequeno país já era uma das maiores potências
industriais do mundo; em 1975, é um dos 7 países mais industrializados do
planeta e, em 1990, o Japão chega ao posto de 2 ͣ maior
potência mundial. Um dos responsáveis por essa ascensão nipônica foi o
engenheiro Soichiro Honda, que em 1948 fundou, na cidade de Hamamatsu, o que
hoje é conhecida como Honda Motor Company Ltd., empresa que em uma década se
tornou a maior fabricante mundial de motocicletas e, em seis décadas, a oitava
maior fabricante de automóveis do planeta.
Sempre de olho no que o mercado
busca, produz de tudo um pouco, desde que tenha motor, e entre as 55 fábricas,
em 25 países, está a que produz a primeira incursão da montadora japonesa na
seara das pick-ups, que lançou nos Estado Unidos, em 2006, o modelo Ridgeline, eleita
a Pick-Up do Ano, logo de cara, pela imprensa especializada mundial!
Enquanto aqui no Brasil, um país em
desenvolvimento há mais de 500 anos, temos de nos contentar em comprar o que
nos é oferecido como a quinta-essência da tecnologia e modernidade, o mundo
civilizado desfruta, a preços terráqueos, do que efetivamente há de melhor em
todos os segmentos da indústria automobilística. Prova disso é a nova geração
da Pick-Up Honda Ridgeline, repleta de inovações, materiais diferenciados em
sua construção e equipamentos de série impensáveis por aqui. Síndrome de
vira-latas? Não, porque não se trata de desprezar ou desmerecer os produtos
nacionais, mas sim demonstrar o que poderíamos ter, se a concorrência fosse
forte e os valores de produção e as taxações coerentes, possivelmente motivo
maior para que a montadora japonesa não tenha se manifestado neste segmento no
Brasil.
Com níveis de conforto e acabamento
que variam entre as versões RT, Sport, RTS e RTL, o primeiro diferencial da
Honda Ridgeline é sua estrutura, que só não é monobloco porque a carroceria é
montada sobre chassis; mas é uma concepção três columes – compartimento do
motor + habitáculo dos passageiros + compartimento de carga – sem tampa do porta-malas.
Essa arquitetura do quadro da carroceria oferece 20 vezes
mais resistência torcional do que o sistema tradicional, com a caçamba em
separado da cabine, mantendo a mesma capacidade de carga, segundo a Honda. Essa
afirmação se comprova ao se observar o Cadillac Escalade, Pick-Up gigante da
GMC que segue o mesmo princípio. Particularmente, sempre fui da mesma opinião,
e sempre entendi que as montadoras só mantem a caçamba em separado para a
remota possibilidade de que um eventual comprador pretenda, algum dia, carregar
alguma carga na caçamba, o que é raro por aqui, e que essa carga exija que se
substitua a caçamba original por uma de madeira (?) ou por um baú (??). Em uma
cabine dupla? No Brasil? Sem chance...
A caçamba da Ridgeline, por sinal, é
outra demonstração do que se pode fazer quando se usa a cabeça. O piso da
caçamba, ao invés de ser uma peça única, onde se coloca a carga e pronto,
funciona como uma grande tampa do compartimento de carga inferior, que é como
um porta-malas, forrado por um composto SRC deslizante, resistente a
impactos e a corrosão (o mesmo que reveste a caçamba), com furos de drenagem
para escoar a água de lavagem, e acomoda o estepe, esse sim o ponto negativo da
ideia, porque deve ser um parto a fórceps tirar e colocar um pneu com roda, aro
18” , lá no
fundo. Para facilitar o acesso às cargas nesse compartimento, que exigiria
forçosamente que o usuário subisse na caçamba, a Honda usou outro truque
inteligente, dotando a tampa traseira de dois modos de abertura, o tradicional
descendente e o lateral, como uma porta convencional. Aproveitamento
inteligente de espaço parece ser, por sinal, a palavra de ordem no projeto da
Honda Ridgeline. Na ausência de passageiros para os bancos traseiros, e
necessitando-se transportar mais cargas, basta rebatê-los e tem-se uma área
enorme à disposição. Quando em uso convencional, oferece um console central
multi-funcional grande e completo. Chega de ideias diferentes das que nos
acostumamos a ver? Não...
Por dentro e escondido, a Honda Ridgeline é dotada de tudo o
se encontra em veículos de passeio de alto luxo, como bancos em couro, freios
com ABS, limpador de para-brisas aquecidos, GPS com tela LCD e HSLNS – Honda Satellite-Linked Navigation System com
comando de voz, aquecedor nos bancos, adaptador para notebook e celular,
condicionador de ar com separação de zonas, som com disqueteira e magazine para
6 cds e mp3 de 160 watts, bluetooth, mp3 independente nos bancos traseiros,
teto solar, VTM-4 – Variable Torque
Management, um sistema de bloqueio da tração 4x4, VSA – Vehicle
Stability Assist – sistema automático de estabilidade, TPMS – Tire Pressure Monitoring System, que monitora a pressão dos pneus, duplos
airbags frontais e airbags laterais tipo cortina, encostos de cabeça móveis
para absorver impactos de colisões, enfim, esses são alguns dos itens da
interminável relação de equipamentos que recheiam a Pick-Up mid-size nipo-americana.
Para “carregar” tudo isso, a Honda Ridgeline é equipada com
um motor V6 de 3,5 litros ,
a gasolina, 24 válvulas, com 250 Cv, acoplado a uma
transmissão automática
de 5 velocidades com intercooler. Em comparação com as Pick-Ups mid-size
nacionais, que até bem pouco tempo eram oferecidas com motorização V6, como a
Chevrolet S10 4,3 litros
e 180 Cv e a Ford Ranger 4,0
litros e 162 Cv, o motor bem menor e com quase 100 Cv a
mais mostra bem o quão atual é todo o conjunto mecânico.
E seria precisamente com a Chevrolet
S10, Ford Ranger e Toyota Hilux, todas cabine dupla, movidas a gasolina, que a
Honda Ridgeline disputaria mercado, não entrando nesta disputa a Nissan
Frontier (sua concorrente direta nos Estados Unidos) e a Volkswagen Amarok, uma
vez que ambas só estão disponíveis com motorização a diesel, conforme se pode
analisar abaixo:
Honda Ridgeline Cabine Dupla: 5.255mm de comprimento, 1.976mm de largura, 1.808mm de
altura. Motor gasolina, V6, 3,5
litros , 250 Cv, câmbio automático de 5 marchas, tração
4x4. = R$65.500,00 a R$78.000,00 (US$29.450,00 a US$35.030,00).
Chevrolet S10 Cabine Dupla: 5.347mm de comprimento, 1.882 de largura, 1.821mm de
altura. Motor flex, 4 cilindros, 2,4 litros , 147 Cv, cambio manual de 5 marchas,
tração 4x2. R$64.187,00 a R$81.648,00.
Ford Ranger Cabine Dupla: 5.351mm de comprimento, 1.913mm de largura, 1.848mm de
altura. Motor flex, 4 cilindros, 2,5 litros , 170 Cv, cambio manual 5 marchas,
tração 4x2. R$56.470,00 a R$77.890,00.
Toyota Hilux Cabine Dupla: 5.260mm de comprimento, 1,835mm de largura, 1.860mm de
altura. Motor flex, 4 cilindros, 2,7 litros , 163 Cv, câmbio manual de 5 marchas
ou automático de 4 marchas, tração 4x2 ou 4x4.
R$100.140,00 a R$114.150,00.
Como pudemos notar, então... é uma
pena, para o consumidor brasileiro, que a Honda Ridgeline, em todas as suas
versões, não esteja presente em nosso mercado, porque isso faria com que as
Pick-Ups mid-size aqui oferecidas melhorassem, e muito, ou seriam simplesmente
pulverizadas pela concorrente japonesa.
Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com
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