domingo, 28 de julho de 2013

Nascar: Fórmula americana de automobilismo puro!

A Nascar – National Association for Stock Car Auto Racing – foi criada em 1948 por William “Bill” France e Eduard “Ed” Otto, utilizando carros “de estoque”, com alguma preparação para aumentar a potência e velocidade, uma vez que desde a década de 1920 a corridas aconteciam de qualquer jeito, em todos os Estados Unidos, e a criação dessa associação visava regulamentar e padronizar tanto os carros quanto as provas, e reduzir a bagunça generalizada. A partir da segunda metade de 1960, os carros passaram a ser construídos especificamente para as corridas, devido ao crescimento gigantesco da categoria, as altas velocidades atingidas e, claro, aos acidentes que 68 (?) carros correndo em blocos ocasionavam.

Medidas como essa atraíram a atenção das montadoras, que passaram a utilizar a categoria para promover a venda de seus carros, ajudando nos custos e estruturas de equipes independentes, e daí em diante muitas dessas equipes e pilotos passaram a viver inteiramente do automobilismo – e as montadoras a vender como nunca. Os negócios prosperavam na mesma velocidade dos carros, e na década de 1970 a RJ Reynolds tornou-se a principal patrocinadora da categoria, que passou a ser conhecida como Nascar Winston Cup. As premiações em dinheiro para pilotos e equipes aumentaram, as emissoras de televisão entenderam o gigantesco mercado que se abria, e em 1979 a ABC transmitiu ao vivo, integralmente, pela primeira vez, as 500 Milhas de Daytona. Sabendo como ninguém criar o show, e marqueteiros desde seus nascimentos, os norte-americanos foram desenvolvendo regulamentos técnicos e desportivos que agregaram uma aura de dramaticidade e emoção às provas da Nascar que só fez aumentar ininterruptamente o interesse tanto do público quanto de patrocinadores. Para evitar problemas como superlotação de grids, acidentes fatais (os não fatais fazem parte do show...) e atender a demanda de interessados, regulamentou-se em 1982 a Nascar Busch Series, bancada pela Anheuser-Busch através da cerveja Budweiser, tida como a segunda divisão da Nascar, por ser utilizada pelas equipes para desenvolver pilotos, visando a Winston Cup. Para “formar” equipes e pilotos interessados na Busch Series, criou-se, em 1995, a Craftsman Truck Series, outra sub-divisão da Nascar, utilizando Pick-Ups e regras diferenciadas das duas “superiores”, e hoje a Nascar controla, ainda, diversas categorias regionais, como a K&N Pro Series East e West Coast, entre outras, todas criadas para formar desde a base os pilotos que um dia chegarão ao Olimpo das categorias de Turismo, e todas as sub-divisões, sem exceção, são amplamente apoiadas pelas principais montadoras dos Estados Unidos – Chevrolet e Ford, uma vez que a Dodge, sob comando da Fiat, abandonou as pistas – e, mais recentemente, com a entrada da japonesa Toyota. Montadoras, fornecedores, fabricantes de ferramentas, cervejarias, setores alimentícios, de higiene, diversão etc fazem hoje da Nascar uma de suas principais vitrines, associando seus nomes a pilotos que se tornam referências e ídolos e ajudam a vender seus produtos. Como não tem nada de burros, criam ações e mais ações de marketing, e o comercio de produtos e souvenires vinculados aos carros e pilotos, a cada etapa, movimenta milhares de Dólares. É assim que se une a competição à geração de renda, que se reverte em premiações em dinheiro aos participantes das corridas; voltas completadas viram dinheiro; voltas na liderança viram dinheiro; pole-position vira dinheiro, vitórias viram dinheiro. Tudo vira dinheiro, todo mundo ganha, todo mundo investe e todo mundo disputa até o ultimo milímetro de cada corrida. Com o “aperto” sobre a indústria tabagista, a Nextel passou a ser o principal patrocinador da categoria, e criou o que se conhece por Chase for the Cup, que separa os 12 melhores colocados (entre os 40 inscritos, em média, a cada prova) a partir da 10 ͣ etapa que antecede o final do campeonato, composto por 36 etapas, como os únicos candidatos ao titulo de campeão da temporada. Isso faz com que ninguém alivie em nenhum momento, não existindo o conceito de “regularidade” na cabeça de ninguém, é pé embaixo todas as voltas em todas as provas, que são disputadas em diversas configurações de circuitos ovais e dois circuitos mistos, formato mantido até hoje, após a compra da Nextel pela Sprint, que rebatizou, em 2008, a categoria como Nascar Sprint Cup, a Busch tornou-se Nationwide Series e a Craftsman é agora Camping World Truck Series.

 As diferenças básicas entre a Camping World Truck Series, a Nationwide Series e Sprint Cup Series está na potência dos motores. Os chassis, construídos em tubos de aço, com gaiola de proteção e célula de sobrevivência mega-reforçados são construídos pelas próprias equipes, que seguem a risca os regulamentos técnicos. Isso reduz custos e possibilita à equipes com orçamentos mais enxutos permanecerem nas categorias. As Pick-Ups do Camping World Series usam motores com 700 Cv, enquanto os Nationwide Series chegam a 800 Cv e os Sprint Cup tem 850 Cv, todos acoplados a câmbios manuais, freios comuns e pneus com compostos únicos. Com peso próximo a duas toneladas, os carros da Sprint Cup chegam facilmente aos 300 km/h, e são limitados em alguns autódromos, como Daytona e Talladega, senão passariam dos 400/kmh de velocidade. Parece pouco? As corridas nunca são inferiores a 300 milhas, recheadas de trocas de pneus, reabastecimentos, estratégias, carros que saem e voltam das provas em busca de preciosos pontos e, claro, acidentes espetaculares. Para os que teimam em achar que “corrida em pista oval é só virar para a esquerda”, vale prestarem atenção. A física é um fator preponderante em circuitos ovais, ainda mais que cada um tem características totalmente diferentes, como curvas em ângulos crescentes e decrescentes ou nenhum ângulo, piso de asfalto, concreto ou ambos, extensões que variam de meia milha a duas milhas e meia, e saber acertar o carro para andar no trafego, na turbulência, puxar o carro de trás, empurrar o da frente, "tirar o ar” do adversário para ultrapassá-lo, enfim, é algo extremamente difícil; se fosse fácil, pilotos com formação europeia (como são os sul-americanos) iriam deitar e rolar por lá, mas “apanham” muito até entender a dinâmica dos carros e das corridas.
De olho em tudo o que a Nascar representa para o mundo da velocidade, pilotos brasileiros, além de empresários e chefes de equipe, começam a se envolver com as categorias, e Miguel Paludo disputa sua segunda temporada pela Camping World Truck Series, enquanto Nelson Piquet Jr. faz sua temporada de estréia pela Nationwide Series, ambos visando, claro, chegar a Sprint Cup.
Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com

Um comentário:

  1. Muito bom Renato, parabéns!
    O pobre automobilismo brasileiro poderia se espelhar um pouco na força dos americanos, mas nossos dirigentes...

    Um abraço

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