terça-feira, 23 de julho de 2013

Derrubando Mitos: Blindagem Automotiva – Capitulo 2

Muito bem, já conseguimos definir contra o que os níveis básicos e usuais de blindagem no Brasil prometem proteger o cliente. Agora vamos ver como é construída essa proteção.
Você sabe como é feita a blindagem de um carro? Se a resposta for: com a aplicação de chapas de chumbo e vidros bem grossos, você realmente precisa ler essa matéria até o fim.
Como acontece na indústria da guerra, no mundo da blindagem não existe interesse em vencedores e perdedores, existe interesse em compradores. Para cada novo tipo de escudo desenvolvido, quase imediatamente um novo tipo de munição perfurante é criado. Ao longo do tempo, a ciência avançou, novos materiais foram desenvolvidos e velhos materiais foram remanejados, o que criou um grande volume de composições possíveis no sentido de aumentar a resistência e, ao mesmo tempo, reduzir o peso dos materiais empregados em um sem-fim de projetos. Os Polimeros, compostos químicos de elevada massa molecular, resultantes de reações químicas de polimerização (repetição de unidades estruturais menores até formar macromoléculas que determinam o grau de polimerização) ganharam atenção especial por sua maleabilidade, baixo peso e infinitas combinações, sendo suas formas comerciais mais conhecidas o PVC, o Poliestireno, Poliuretano, Policarbonato, Plexiglas, Baquelite etc. A Aramida é um polímero muito resistente ao calor e sete vezes mais resistente que o aço por unidade de peso. As fuselagens dos ônibus espaciais da Nasa são constituídas de mantas de Aramida. O principal “recheio” das blindagens automotivas atuais também. O peso absurdo do chumbo e aço, e todos os problemas que acarretavam ao coitado do carro, foram bastante minimizados. Mas é um material que custa caro. Logicamente, já foram desenvolvidos polímeros superiores em grau de resistência, maleabilidade e menor peso do que a Aramida, como o Dyneema, por exemplo, mas aí, sim, o preço da matéria-prima é exorbitante. A Nanotecnologia também já entrou na jogada, e materiais como espuma de alumínio e uma fibra composta basicamente de papel (é, papel...) estão em desenvolvimento.
O Aço Inox é uma liga de ferro e cromo, podendo conter também níquelmolibdênio e outros elementos, que apresenta propriedades físico-químicas superiores ao aço comum, conhecido como Aço Rápido, que já é uma evolução do Aço Ferro-Carbono, com maior resistência ao ataque de um grande número de substâncias corrosivas, entre elas o ácido nítrico, soluções alcalinas, soluções salinas e sua maleabilidade permite a construção de peças com alto nível de acabamento.
Então, os materiais empregados na blindagem de um veículo, até o Nível III-A são hoje, basicamente, mantas de Aramida em camadas de até 9mm de espessura e Aço Inox AISI 304 de 3mm de espessura nas áreas opacas (carroceria) do veículo. Usando o mesmo Nível III-A para exemplificar, o Aço Inox AISI 304 é aplicado em parte dos para-lamas, moldura do para-brisa, moldura do vidro traseiro, colunas e estruturas, moldura do teto, moldura dos vidros e contorno de portas e fechaduras.  Determinadas áreas, como os vãos entre os vidros, moldura do teto e contornos são chamados Overlap. A Aramida é aplicada na parte interna das portas, para-lamas, tampa do porta-malas, teto, encosto do banco traseiro e capô do motor.
Tudo resolvido, então? Já pode sair na rua e encarar a bandidagem? Não, tem coisa faltando, precisamente os vidros que, junto aos pneus, são a pior dor-de-cabeça no mundo da blindagem.     
O vidro é um óxido metálico super esfriado transparente, de elevada dureza, essencialmente inerte e biologicamente inativo, normalmente  fabricado com superfícies muito lisas e impermeáveis, obtido pela fusão, em torno de 1.250 ºC, de dióxido de silício, carbonato de sódio e carbonato de cálcio. O vidro balístico geralmente é composto por vidro (lógico), polivinil butiral, poliuretano e policarbonato. São fabricados por dois processos distintos, a laminação por autoclave, comercialmente conhecidos como vidros laminados, e laminação com resina, mais conhecidos como vidros resinados. A melhor opção é o vidro laminado, com policarbonato, por ter a mesma resistência balística com menor espessura e ser bem mais leve, no caso do Nível III-A sua espessura sendo em média de 21 mm e o peso de 45 kg/m2. Se fossem laminados com resina esses números  pulariam para 38mm de espessura e 80 kg/m2 de peso. Sendo um ou outro, a bala disparada contra uma folha de “vidro à prova de bala”, como é conhecido vulgarmente, vai perfurar a camada externa do vidro, o que irá amassá-la, e as camadas de policarbonato e outros polímeros vão absorver a energia dessa bala e pará-la antes que atravesse tudo e saia pela camada final. A camada de policarbonato, geralmente composta de produtos como Armormax, Makroclear , Cyrolon , Lexan ou Tuffak , está para ser superada pelo recentemente desenvolvido Oxinitreto de Alumínio, muito mais vele, e só não está em uso regular ainda porque é muito mais caro do que o policarbonato.
O pneu é exatamente o mesmo de sempre: um artefato circular feito de borracha, inflado com gases ou água, de cor negra devido ao fato da adição de negro de fumo à composição da borracha, já que sem esse elemento os pneus seriam brancos, iam sujar muito e se desgastariam rapidamente. No caso da blindagem, ninguém adiciona nada de especial em sua fórmula básica, apenas um aro de segurança, manufaturado em Aço Inox AISI 304, é inserido em sua parte vertical interna quando de sua montagem na roda, o que permite ao motorista rodar, a baixa velocidade, por uma curta distância, até encontrar refúgio.
A aplicação de todo esse material estará adicionando ao peso original do veículo um valor que varia entre 160 e 280 kg, dependendo do veículo a ser submetido a blindagem. Se a blindagem chegar ao nível máximo, esse peso extra será na ordem de 400kg a 800 kg.
Pronto, chegamos ao Olimpo da segurança. Você escolheu o Nível de blindagem que mais te parece indicado porque entendeu tudo até agora. Já sabe um basicão de armas, munições, materiais e como o carro é blindado. Mas, antes de sair e comprar o primeiro carro que aparecer e mandar executar o serviço, que tal entender um pouco da única coisa que não falei até agora, justamente o carro a ser blindado?




Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com


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