sexta-feira, 19 de julho de 2013

BMW 801 – Contra-ataque alemão na Guerra dos Céus!


Quando se ouve o nome BMW, a primeira imagem que vem a mente da maioria das pessoas são os carrões luxuosos e sonhos de consumo em quase todo o mundo. A segunda imagem costuma ser uma enorme e não menos desejada motocicleta fabricada por este gigante alemão. Mas não era para ser assim. Quando em 7 de março de 1916 Karl Rapp e Gustav Otto fundaram, em Munique, a Bayerische Motoren Werke, queriam fabricar motores para aviões. Com a derrota alemã na I Guerra Mundial e todas as proibições que o Tratado de Versailles impôs ao país, a “quebradeira” foi geral e a BMW, para sobreviver, passou a produzir motocicletas e automóveis. Porém, se uma guerra foi a responsável pela mudança de planos da fábrica, a que veio em seguida a trouxe de volta em seu cenário inicialmente planejado. Na década de 1930, a BMW conseguiu uma licença para produzir os Pratt & Whitney R-1690 Hornet radiais norte-americanos (assim como a Fiat fez com seu A.59), rapidamente melhorados e re-batizados como BMW 132, cujo destino era substituir os motores utilizados na Europa em aviões de transporte e cargueiros e principalmente nos Junkers JU52 alemães até então. Em 1935, esse motor chegava aos 1.529 Cv, em sua versão ainda mais aperfeiçoada, chamada BMW 139. Como todo mudo sabe, a engenharia alemã é uma das mais perfeitas do mundo e, como todo mundo também sabe, teve um austríaco maluco, com um bigodinho ridículo, que soube e muito tirar proveito dessa habilidade germânica, principalmente no período entre as duas grandes guerras, as escondidas, enquanto pavimentava seu caminho ao que pretendia ser o poder absoluto. Senão, teria sido impossível criar a temida e, possivelmente ainda hoje, mais poderosa força aérea, a Luftwaffe, que contava com a genialidade de Hugo Junkers, Wilhelm Emil “Willy” Messerschmit e Kurt Waldemar Tank na criação de seus aviões. Foi este ultimo, por sinal, quem transformou os motores BMW 138, 139 e seu sucessor, o 810, através de suas criações para a Focke-Wulf, em sucessos absolutos, para desespero dos Aliados. 


O BMW 139, evolução do 138, deveria ser destinado ao mesmo emprego dos outros motores radiais alemães, ou seja, aviões de passageiros e cargas, mas foi desenvolvido visando equipar, na realidade, os novos bombardeiros e transportes de tropas em construção pela Junkers, Heinkel, Messerschmit e Fock-Wulf. Motores radiais eram raros em projetos europeus para aviões de alto desempenho, devido ao seu diâmetro, que causavam problemas aerodinâmicos, além da refrigeração ficar muito prejudicada quando os motores eram carenados, como mostravam os aviões de caça norte-americanos e japoneses. Mas não na cabeça de Kurt Tank, que tinha em mãos o desenvolvimento do caça Focke-Wulf FW190, sugerindo a utilização do BMW 139 em seu projeto, criando um design aerodinâmico para reduzir a resistência do ar e resolvendo o problema de arrefecimento dos cilindros, que obrigavam manter uma grande abertura na parte frontal, usando um ventilador acionado pelo próprio motor, soprando o ar nos cilindros e através de dutos em forma de S para o radiador de óleo. Porém, como o sistema provou ser quase impossível de funcionar corretamente com o BMW 139, já que os primeiros protótipos do FW190 demonstraram terríveis problemas de refrigeração, e a concepção do próprio motor já era antiga, a BMW propôs em 1938 um motor radial inteiramente novo, projetado especificamente para aviões de caça, e poder competir com os motores em linha. A insistência na configuração radial devia-se ao fato de que esses motores aguentavam melhor os danos sofridos em combates, além da maior facilidade de manutenção, primordial para reparos em pistas de pouso improvisadas. Dessa forma, surgiu então o BMW 801!

Gerando entre 1.540 Cv a 1.970 Cv, dependendo da versão, o BMW 810 acabou por ser o motor mais produzido pela Alemanha durante o período da 2 Guerra Mundial, com mais de 28.000 unidades produzidas.
A BMW solucionou o problema da refrigeração equipando o 801 instalando uma ventoinha de ventilação em liga de magnésio, com dez lâminas em sua concepção inicial, logo passando a doze lâminas, que giravam 1,72 vezes a velocidade do virabrequim e 3,17 vezes a velocidade da hélice. Simples, porém genial porque ninguém tinha pensado antes, o sistema funcionou perfeitamente, embora à custa da perda de cerca dos 70 Cv, necessários para girar o ventilador, quando em vôo a baixa velocidade. Kurt Tank desenhou a carenagem perfeita para a utilização do BMW 801, idêntica ao que se vê hoje nos motores a jato, com a engenhosa  
disposição de arrefecimento de óleo montada na seção dianteira e arredondada da carenagem.  Integrar o sistema de refrigeração do óleo dentro do capô do motor tornou possível unificar a instalação do grupo motopropulsor, com o mínimo de reservatórios e conexões exteriores.
Estava pronto o BMW 801, um motor radial com 14 cilindros, 41,8 litros, refrigerado a ar, taxa de compressão de 6.5:1, com 1.560 Cv a 2.700 Rpm, para decolagem ao nível do mar, que equipou algumas das maiores legendas da história da aviação, como o Focke-Wulf FW 190, caça monomotor  com ampla utilização, capaz de carregar mais carga do que o Messerschmitt BF109, sendo empregado como caça diurno, caça aos bombardeiros, ataque a aviões em solo, as forças terrestres e, em menor grau, como caça noturno, sendo de longe muito superior aos Spitfire MKV utilizados pela Royal Air Force. Na Frente Oriental, os pilotos da Voyenno-Vozdushnye sily Rossii, a Força Aérea Russa, temiam apenas os BF 109, o que logo descobriram ser um erro, principalmente nos voos a baixa altitude. Sua deficiência, que eram os voos a 20.000 pés (6.000 metros), quando perdia potência, e para essas missões eram utilizados os BF109.  


Ainda bem para o mundo que os Aliados venceram os Nazistas e a guerra acabou antes que a Messerscmitt concluísse seu projeto mais mortífero. Em janeiro de 1941, o Oberkommando der Luftwaffe (OKL), Alto Comando da Luftwaffe, exigiu um avião com a maior autonomia de voo do mundo, para ser usados ​​em missões de bombardeio e reconhecimento de longo alcance, principalmente na guerra naval sobre o Oceano Atlântico, com autonomia de 20.000 quilômetros. A necessidade do OKL, na verdade, era ter uma aeronave capaz de atingir o que os loucos nazistas denominaram como futuro do Império Colonial do Reich alemão, a ser instalado na África Central, e Hermann Göring prometeu a Hitler que essa aeronave seria capaz de alcançar as bases francesas no Caribe, ficando em condições então de bombardear diretamente os Estados Unidos. Foram testados os projetos Focke-Wulf FW 200 Condor,
Heinkel HE 177 Greif, Blohm & Voss BV 222 e o Messerschmitt ME 264, sendo este ultimo, rebatizado de ME 264 Amerika Bomber, que levou a melhor. Ironicamente, Willy Messerschmitt havia iniciado, por conta própria, o Projekt 1061 em 1937, que era exatamente o ME 264, mas que ficou “congelado” por conta da prioridade no desenvolvimento dos BF109 e BF110. Para garantir a autonomia exigida em seu avião quadrimotor com 20,9 metros de comprimento, 43,0 metros de comprimento, carregado com 5 toneladas de bombas no compartimento interno, além de bombas leves penduradas nas asas, e armado com metralhadoras MG 131 de 13,1mm e MG 151 de 15mm nas torres, Willy desenvolveu ideias aparentemente absurdas, na época, mas que funcionaram, e depois foram copiadas e empregadas até hoje, como as bombas em suportes nas asas, um ME 264 vazio rebocar outro totalmente carregado, em altitude elevada, utilização de foguetes (mesmos das bombas V1) para decolagens e, a que deu mais certo: o reabastecimento em voo. Como não tinham protótipos para testar, usaram os Focke-Wulf FW58 e Junkers JU90, tiveram êxito total e foi ali que se criou o conceito de reabastecer sem pousar.  O sonho de Hitler de ver uma formação de ME 264 Amerika Bomber devastando a América do Norte foi interrompido pelo final da guerra na Europa. Mas teria dado certo se a Messerschmitt não houvesse perdido 4 anos de seu desenvolvimento. Lembrem-se que, nessa época, as coisas andavam depressa, e esse tempo era mais do que suficiente para que o ME 264 Amerika Bomber, com seus quatro motores BMW 801, chegasse no ponto de realizar essa missão!


Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com

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