segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Stock Car: A Nossa Nascar? Um dia, quem sabe...



Uma simples coincidência de calendário, no domingo último. Duas emissoras transmitiram, ao vivo, em horários distintos, porém próximos, duas provas válidas pelos campeonatos das duas categorias de Turismo mais importantes em seus países. Uma detém a liderança absoluta do ranking de “melhor do mundo”; a outra é tida como “uma das melhores do mundo”. Para quem gosta de corridas, um prato cheio e... a inevitável comparação. Claro que estou falando da norte-americana Nascar e da brasileira Stock Car. Não fosse a nossa mídia ter insistido por tantos anos que a Stock Car Brasileira é a “Nossa Nascar”, essa comparação não existiria. Mas insistiu, as pessoas acreditaram e, para apimentar a comparação imediata, a etapa disputada pela Nascar foi em Watkins Glen, um dos mais belos circuitos mistos do planeta, enquanto a Stock Car foi para as ruas de Ribeirão Preto, num circuito finalmente bem-elaborado, rápido e com pontos de ultrapassagens, fugindo da chatice dos tradicionais traçados de rua onde as provas acontecem em fila indiana.


Batidas, toques, empura-empurra, troca constante de lideres e total imprevisibilidade de resultado compõem, em síntese, absolutamente todas as 36 etapas da categoria norte-americana. Estratégia, pit-stops de verdade – com trocas de pneus, reabastecimentos e “maniveladas” nas suspensões – e bandeiras amarelas mudam constantemente os panorama das corridas, fazem os pilotos pisarem sem dó e que vença o melhor ou, em alguns casos, o que se deu menos mal. Zebra alta, zebra baixa, grama, para-lama com porta, três lado a lado, tudo é válido para que os 42 pilotos, com seus carros de quase duas toneladas e 850 Cv de potência garantam disputas acirradas do inicio ao fim. Como recompensa, ganham em (bastante) dinheiro prêmios por volta completada, por volta na liderança, por pontos conquistados, pelo maior numero de voltas na liderança, pela pole-position e pela vitória. Para que um carro abandone uma prova, tem de sofrer uma explosão nuclear ou mandar o motor para a lua, caso contrário ele volta; remendado, mas volta.  Porque os carros são bem projetados e bem construídos, mesmo em batidas nas absurdas velocidades que os carros atingem – bem mais de 300 km/h em determinados circuitos – as áreas de escape são boas, assim como os muros não são de concreto revestidos de pneus, agregam uma proteção chamada soft-wall, que absorve o impacto e faz o carro deslizar, ao contrário do choque espatifante e a consequente ricocheteada proporcionada pelo muro sólido. Claro que, principalmente nos circuitos ovais, os carros acabam sendo atingido por outros. Mas isso porque as curvas são inclinadas e a gravidade os traz para baixo, os grids são lotados, andam todos embolados, em altíssima velocidade e nenhum tem dispositivos do James Bond para fazer o carro pular os que estão à frente.


A cada etapa, em algum dos incontáveis Autódromos em todos os Estados Unidos, são em média 42 pilotos, as vezes chegando a 45; desses, de traz pra frente, 10 estão ali só para dar umas voltas, juntar uns US$ e melhorar os carros para a próxima etapa; dos 35 restantes, 15 estão se adaptando à categoria, ou descobrindo que não são do ramo e só estão ali porque os patrocinadores gostam, em equipes mais ou menos (mais pra menos...), e de vez em quando conseguem alguma coisa em termos de resultado, quando todo mundo bate lá na frente. Os 20 que sobraram andam forte, suas equipes são fortes e é um Deus-nos-acuda as 50 ultimas voltas de cada corrida. Como isso tudo atrai um publico imenso e as transmissões pela televisão asseguram audiências altíssimas, patrocinadores não faltam, e as montadoras investem pesado na categoria. Cada equipe constrói seu próprio carro, do chassi ao ultimo parafuso, e as montadoras entram com os motores e preparadores. Isso reduz bastante os custos. Cabe a organização fiscalizar a construção dos carros e os regulamentos. Sem monopólio. Democrático e competitivo. Cada equipe pode colocar até 4 carros nas corridas, e não existe por lá o conceito de primeiro piloto. É cada um por si, e não tem a coisa de um piloto carregar a equipe nas costas. Os pilotos são elevados ao patamar de ídolos, os patrocinadores utilizam o investimento empregando suas imagens e todos ganham, ficam felizes e o show não para nunca.


Batidas, toques, empura-empurra, também acontecem na Stock Car; em menor volume, porque os carros se escangalham. Estratégia é nula, já que os pit-stops são fictícios – sem trocas de pneus, reabastecimentos fantasmas e nenhum ajuste possível – e bandeiras amarelas não mudam nada, porque tem de economizar pneus e combustível. Zebra alta, zebra baixa, grama, para-lama com porta, três lado a lado, quase nunca é possível para que os 32 pilotos, com seus carros de 550 Cv de potência garantam disputas acirradas do inicio ao fim. Como recompensa, ganham um troféu. Para que um carro abandone uma prova, basta qualquer toque ou escapada, já que os carros parecem feitos de leite em pó e desmancham sem bater. Porque os carros são mal projetados e, mesmo quando bem construídos, as batidas, longe da velocidades que os carros atingem – no máximo 220 km/h em determinados circuitos – destroem tudo, porque as áreas de escape são péssimas, porque os muros ainda são de concreto revestidos de pneus, que ao receber o impacto não absorve a onda de choque e faz o carro ricochetear desgovernadamente, as vezes sendo atingido por outros. A cada etapa, em algum dos poucos Autódromos restantes no país, já que, dos que existem, raros oferecem condições para uma corrida de algo mais pesado e potente do que um patinete motorizado, são em média 30 pilotos; desses, de traz pra frente, 15 estão ali para dar umas voltas e tentar levantar patrocínio para a próxima etapa; dos 15 restantes, 10 tem chances de bons resultados e alguns até de lutar por vitórias e, os outros 5 estão ali apenas porque tem muito dinheiro, já estiveram em todos os níveis de equipes e nunca conseguiram um resultado que valesse constar em uma estatística.


Como é a principal categoria de Turismo do país, atrai um bom publico, e as transmissões pela televisão, embora em canal fechado (apenas a etapa de Ribeirão Preto e Salvador tem televisão aberta, porque pagam para isso) asseguram boa audiência, e patrocinadores são garimpados com chapeuzinho na mão, sendo normalmente difícil bancar os custos altíssimos e inexplicáveis da categoria, com mínimos investimentos de montadoras. Isso porque toda a estrutura é um monopólio – situação de concorrência imperfeita, quando uma empresa detém o mercado de um determinado produto, impondo seus preços e criando barreiras para a entrada de empresas que tencionem vender o mesmo produto ou um substituto, protegendo o monopolista da concorrência. Cada equipe monta seu próprio carro, só que com todas as peças, do chassi à carroceria, fornecidas por uma única empresa, que também aluga os motores, com valores injustificáveis. O mesmo se aplica as peças de reposição. Isso catapulta os custos acima da estratosfera. Cada equipe pode colocar até 2 carros nas corridas, e criam definições como equipes co-irmãs, ou seja lá o termo que os locutores inventem, para tentar justificar que não é tudo do mesmo dono, geralmente com um piloto carregando a equipe nas costas e o outro entrando com o dinheiro. Fosse correto, caberia à organização fiscalizar a construção dos carros, construídos integralmente pelas equipes, dentro dos regulamentos. Sem monopólio. Democrático e competitivo. Mas não é assim e não é correto. E não é assim só na Stock Car, que fique claro. Uns poucos querem ganhar muito “em nome do automobilismo”, as Federações esfolam sem dó com taxas de inscrições abusivas e absurdas, os custos de locações dos Autódromos são baseados na economia dos Emirados Árabes Unidos e, por essas e outras, quem pode vai ser profissional em outros países. Os pilotos, que levam o dinheiro para as equipes, que o utilizam e geram emprego, nada mais fazem além de abanar bovinamente suas cabecinhas, os mesmo pilotos que são pouco utilizados pelos patrocinadores, que não utilizam o investimento empregando suas imagens, perdem o interesse e o show, para não parar, é uma guerra. A Stock Car por tudo o que já passou e representa, é a principal categoria de Turismo do Brasil, e pode figurar entre as principais do mundo. O automobilismo nacional agradeceria muito. Basta querer. E como torço para que queiram...



Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com
  

9 comentários:

  1. Simplificando a Stock-Car não está com nada cara .

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  2. Só uma correção na Cup são 43 competidores por etapa, sendo que como você colocou bem, em algumas provas 45 carros ou até mais (Caso da tradicional Daytona 500) tentam a sorte no grid, desses só 43 tem lugar no final para a largada levando-se em conta alguns critérios.

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  3. Veja Renato, é a cara de nosso automobilismo, não vai mudar, e como disse o Marco não está com nada!
    Dessa forma nunca mais teremos um piloto competitivo na F Um!

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  4. Só mais um detalhe: vá como convidado de box para a Stock Car e vá de convidado de box para a Nascar. Na primeira você cata uma TV em algum box pra assistir, já que não pode ficar no pit. Na Nascar você fica no pit, separado da área onde o carro para pro pit stop por um muro de meio metro no máximo.

    Isso sem falar do valor dos ingressos, itens para comercializar e gerar mais dinheiro para equipes, pilotos e Nascar...

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  5. Belo comentário. Só uma coisa,importante por sinal que vc não mencionou. A duração das provas. Enquanto a Stock brazuca tem pasmém 40 minutos de prova, a Nascar tem em média 2 1/2 horas.....Simplesmente lamentável. Ou vc acha que vou sair de casa me deslocar até o autodromo para ver 40 minutos de prova. Os pilotos nem suam.

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  6. ok,a stock car do Brasil pode ser uma bosta..mas os senhores não se esqueçam que temos pilotos de Formula 1 reconhecidos mundialmente: Emerson Fitpald,Airton Senna e Nelson Piquet,o que eu nunca vi acontecer em relação á NASCAR.Obviamente não tem nada ver com o assunto,mas não me sinto bem quando detecto um certo "complexo de viralatismo" vindo de brasileiros....aliás,F 1 x NASCAR é outra polêmica....

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    1. Está falando de Nascar e Stock car, por que pôs F1 nessa conversa???
      Se fosse assim, deveria falar diferença entre F1 e F Indy

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  7. e outra a stock não corre em oval e a nascar corre

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