É, houve um tempo, nem tão
absurdamente distante assim, em que havia fabricantes de automóveis, e esses
fabricantes faziam questão absoluta de que seus veículos fossem muito
diferentes dos concorrentes. As décadas de 30,40,50 e 60 foram, positivamente,
as mais emblemáticas com relação principalmente ao design, e era sempre
possível distinguir-se a distância o que era um Plymouth, um Dodge, um Ford ou
um Chevrolet, um Fiat, um Renault, um Mercedes-Benz, um BMW, um Aston Martin um
Jaguar etc. São apenas alguns exemplos – senão eu precisaria de 5 páginas A4
para citar fabricantes – de uma época em que havia estilo; é certo dizer que a industrialização, os
volumes atuais, as necessidades, a globalização e mais mil rótulos e desculpas
justifiquem uma certa massificação em todos os setores da indústria. Mas é
errado afirmar que esses rótulos e desculpas justifiquem a absoluta falta de
identidade dos veículos atuais. A ideia geral que se tem é de que hoje em dia
existe um estúdio de design, provavelmente na China, pra custar bem mais
barato, que desenvolve projetos em linha de produção, os arquiva por carroceria
(sedan, hatchback, pick-up etc.) e vão aplicando as logomarcas de acordo com a
montadora-cliente...
Desde 1922, os ingleses William
Lyons e William Walmsley se empenhavam na tarefa de criar carros o mais próximo
possível da perfeição, e a marca SS Cars Ltd foi ficando cada vez mais
respeitada em todo o Reino Unido em particular e no mundo em geral. Foi em 1935
que um de seus modelos utilizou pela primeira vez o nome que se tornaria
posteriormente a marca oficial da empresa, o SS Jaguar 2,5 Liters. O nome SS
Cars Ltd. esteve presente em todos os modelos fabricados até 1945 quando,
fugindo da conotação desfavorável proveniente da sigla SS (SchutzStaffel), que eternizou o exército de elite de
um austríaco louco na Alemanha, os carros (e a fabrica) foram
rebatizados para Jaguar Cars Ltd, E podemos dizer que essa é uma das chamadas
“ironias do destino”; a Alemanha pós-guerra estava pobre, falida, endividada e
suas fábricas transformadas em destroços. Mercedes-Benz, BMW, e todas as marcas
que se transformaram na atual Audi, estavam as voltas com tentar voltar a
produzir automóveis, já que passaram longos anos focados na indústria bélica. A
Volkswagen, nascida por ordem do mesmo austríaco louco, continuava se
empenhando na produção do rejeitado Fusca (os Aliados recusaram os espólios da
fábrica, porque julgaram que o carro era feio, barulhento e ninguém iria querer
um) e, tanto a elite dominante estrangeira que dominou o país, quanto os
próprios alemães que enriqueceram rapidamente através de atividades ilegais e
criminosas (mercado-negro, falsificação e venda de documentos etc) procuravam,
principalmente na Jaguar Cars Ltd., os automóveis de luxo e alto desempenho com
que sonhavam. Isso, logicamente, na República Federal da Alemanha, no lado
Ocidental, porque na República Democrática Alemã, o lado Oriental dominado pela
União Soviética comunista, somente os membros do governo podiam ter um carro de
verdade, importados da “outra” Alemanha e da Rússia.
O Jaguar XK 150 S foi, sem dúvida,
um dos principais objetos de desejo de 100 entre 90 novos-ricos na Alemanha, e
de todas as pessoas de bom gosto – com dinheiro na conta bancária – de todo o
mundo. Criado em 1957 e produzido até 1961, o modelo teve a árdua missão de
superar seu antecessor, o XK 140, tarefa que cumpriu à risca e rapidamente, nas
versões FHC (coupé capota fixa), DHC (coupé capota removível), e OTS
(roadster); vale lembrar que nenhuma das versões foi idealizada pensando em
transportar mais de dois ocupantes, apesar de dois mini-assentos estarem
montados nas versões FHC e DHC, e totalmente eliminados no OTS.
O estilo e as linhas de sua carroceria
lembravam apenas vagamente os modelos XK120 e XK140, já que o XK150 S
apresentava traços “pessoais” marcantes. O para-brisa único substituiu o duplo
com divisão, comum até então. As linhas laterais ficaram mais altas, o capô do
motor foi alongado, e é indiscutível o bom gosto e a elegância de toda a
carroceria com sua fluidez, limpeza e até a traseira, área sempre negligenciada
pelos departamentos de design até hoje, combinava perfeitamente com todo o
conjunto. Internamente, qualidade e requinte eram as palavras de ordem. Painel
completo, com acabamento em couro, as portas com perfil mais fino, aumentando o
espaço interno, tudo foi pensado para proporcionar o máximo possível de luxo e
beleza no novo Jaguar.
Inicialmente, o XK 150 S era impulsionado
pelos motores seis cilindros em linha, 3,4 litros , DOHC, com
180 Cv de potência, porém uma leve alteração em sua arquitetura rapidamente
elevou sua potência para 210 Cv, em 1958 um novo retrabalho elevou essa
potência para 250 Cv e, em 1960, o XK 150 S ganhou um novo motor, também 6 cilindros
em linha, também DOHC, mas aumentado para 3,8 litros e 260 Cv, e o
carro com 4.496mm de comprimento, 1.580mm de largura e quase 1/5 tonelada de
peso atingindo 217 Km/h
de velocidade máxima.
A produção do Jaguar XK 150 S foi encerrada em
outubro de 1960, e suas vendas totalizaram 9.382 unidades, sendo 4.445 FHC
(coupé capota fixa), 2.672 DHC (coupé capota removível) e 2.265 OTS (roadster).
Colecionadores de automóveis de todo o mundo estão sempre à procura de
um exemplar de qualquer versão do Jaguar XK 150 S. Modelos perfeitamente
restaurados, tão impecáveis quanto no dia em que saíram das linhas de
montagens, quando leiloados atingem valores que variam entre € 150.000 a € 190.000.
Depois de
diversas fusões e separações com outros fabricantes, em 1989 a montadora
inglesa foi comprada pela Ford e, desde
dezembro de 2012, a
Jaguar
Cars faz parte do
grupo Jaguar Land Rover Automotive PLC,
uma subsidiária da montadora indiana Tata Motors.
Renato
Pereira – blogtruecar@gmail.com
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