Um dos componentes mais ignorados em
um automóvel de passeio é justamente o mais imediatamente relacionado com a
segurança, os pneus. Apesar de estarem ali, diante dos olhos, na imensa maioria
das vezes, o usuário comum só se lembra de sua existência quando vai comprar um
carro usado – para reclamar de seu estado e tentar baixar o preço – e quando
vai vender – para justificar que ainda está muito bom e não dar nenhum
desconto.
Não é um componente que possa ser
considerado barato, se for analisado apenas o fator preço de compra, até porque
a inteligência diz que não se compra apenas um, já que usam-se quatro
simultaneamente e nunca gasta-se apenas um. No entanto, é bastante barato se
considerada sua vida útil, se o usuário prestar atenção em suas condições, ler
e seguir as recomendações do fabricante e tiver um mínimo de cuidado ao
dirigir.
Existe em nosso mercado algumas das
mais importantes fabricantes mundiais do setor. O fator tecnologia, em nosso
caso, portanto, não está nem aquém nem além do que existe de melhor lá fora,
até porque alguns carros importados exigem serem calçados com pneus
específicos. Existe em nosso mercado, também, um jeitinho brasileiro – com
subdivisões e tudo – que chega a ser de uma estupidez tão grande que nem a
falta de dinheiro justifica: o “usadinho”, que o cidadão compra em uma
borracharia-muquifo, raramente nas mesmas medidas originais, que são oferecidos
nas versões: usadinho “meia vida” = aquele pneu que o dono do carro tirou
porque esta velho, ressecado e quase careca; usadinho “frisado” ou “riscado” =
o mesmo pneu anterior, mas onde o borracheiro empregou seus dotes artísticos
com um ferro quente, e redesenhou as ranhuras que o desgaste apagou. Dessa
forma, o tal usadinho acabou de se transformar em uma arma, porque o artista do
ferro quente, ao aprofundar as ranhuras desaparecidas, eliminou boa parte da
borracha que faz parte da estrutura do pneu, e essa coisa vai estourar assim
que topar com uma pedra. Usadinho importado = lá, no Primeiro Mundo, mesmo em
crise financeira, os usuários de veículos tem, forçosamente, de substituir os
pneus de seus carros puramente por condições climáticas. Existem pneus
específicos para a época das chuvas, para neve e para verão. Desnecessário
dizer que o composto da borracha e o desenho das ranhuras são desenvolvidos
para cada fim. Logo, é desnecessário dizer que um pneu específico para rodar
sobre neve terá outro comportamento sobre piso seco e vice-versa. Então, no
Primeiro Mundo, quando o usuário esta sem dinheiro para substituir os pneus,
ele deixa o carro em casa e anda de ônibus. Quando os troca, os pneus usados,
então, são jogados fora; viram montanhas de lixo não-biodegradável e
reaproveitados em usinas de asfaltamento, no mais das vezes. No menos das
vezes, uma turma de espertinhos brasileiros resolveu que era bacana trazer
esses pneus e vender como “semi-novos” por aqui; oficialmente, sua importação
diz que deverão ser usados como base para pneus remold*. Extra-oficialmente,
esses pneus-lixo infestaram as borracharias dos 4 cantos do país, importados
por intermédio de liminares falsas (custavam, em média, R$ 12.000,00 cada
liminar) e eram vendidos abaixo de preço
de banana. Os espertinhos daqui do Terceiro Mundo (nunca me disseram onde fica
o Segundo...) empurravam goela abaixo dos consumidores também espertinhos (os
que vivem atrás de formulas magicas para pagar menos) e o que mais se viu,
então, foram carros meia vida com pneus meia vida específicos para gelo ou
chuva, que apesar de excelentes para piso seco, se desgastavam inteiramente em
um mês. Muitos lojistas “picaretas” se
utilizaram desses pneus, enganando o consumidor que enxergava pneus bem
“recheados” e pensavam que estavam fazendo um bom negócio. Resumindo:
economizar palitos em banquete é burrice com todas as letras, e calçando seu
carro com qualquer alternativa de “jeitinho brasileiro” você estará tentando se
suicidar, matar alguém ou matar sua própria família. Entendeu agora?
Tecnicamente, o pneu é uma cobertura
em forma de anel que se encaixa em torno do aro de uma roda para protegê-la,
proporcionar a transferência da tração das rodas ao piso e servir de uma espécie
de almofada flexível, que absorve o choque das imperfeições da superfície. Tem
esse nome esquisito por ser derivado do francês Tirer (puxar), que em inglês
virou Tire. O termo pneu apareceu na década de 1840, quando eram bandas de metálicas
colocadas em rodas de madeira. Essas bandas eram aquecidas em fornalhas,
colocadas sobre as rodas e esticadas, fazendo-as se contrair e encaixar
firmemente nas rodas. Esse “anel metálico” servia então para “tirer” os
segmentos de rodas, e palavra "pneu", portanto, surgiu como uma
ortografia variante para se referir às bandas de metal usadas para amarrar as
rodas. Essa é a explicação 1; a explicação 2 diz que o nome é derivado de pneumático, que
vem do latim pneumatĭcus, que por sua vez vem do grego πνευματικός, que quer dizer
sopro. Existem piadinhas sobre, mas ninguém explica que o pneu é preto pela adição
de negro-de-fumo à composição da borracha, senão os pneus se desgastariam
muito rapidamente... e ficariam sujos, segundo as tais piadas. Quem resolveu
revestir a roda com borracha foi o veterinário escocês John Boyd Dunlop, mas
sua patente foi mais tarde invalidada em favor de Robert William Thomson. Em
termos de materiais, a vulcanização da borracha natural é creditada a Charles
Goodyear e Robert William Thomson, e as borrachas sintéticas foram inventados
nos laboratórios da Bayer em 1920. Hoje em dia, mais de 1 bilhão de pneus são
produzidos anualmente, em mais de 400 fábricas, a imensa maioria na Ásia e
Índia, e não estranhe ao ler nos pneus de seu Porsche, Mercedes-Benz ou Jaguar,
por exemplo, que aquele pneu de marca europeia é, na verdade, fabricado em
outro Continente. Não raro, por sinal, essas fábricas produzem pneus de
diversas marcas, mudando apenas o desenho e os nomes prensados em suas
laterais. As maiores fabricantes de pneus no mundo, em receita, são Bridgestone,
Michelin, Goodyear, Continental e Pirelli.
O que é importante saber e prestar
atenção, além de não comprar porcaria só porque esta baratinho:
Os pneus, de modo geral, tem
sua durabilidade entre 25 mil a 70 mil quilômetros, dependendo dos cuidados do
usuário e do seu uso – tipo de piso, carga, etc. Deve-se sempre revisar o
balanceamento e alinhamento a cada cinco mil quilômetros, e efetuar o rodízio dos
pneus a cada 10 mil km, até atinjam a "meia-vida", quando a profundidade
dos sulcos é de aproximadamente 3,5 mm. Abaixo dessa profundidade, deve-se
deixar o pneu mais gasto no eixo dianteiro, porque é ali que se comanda a
direção e recebe a maior pressão dos freios. A calibragem dos pneus deve ser
feita periodicamente, e sempre antes de viagens, com a pressão recomendada pelo
fabricante do veículo. Então, basta usar uma calculadora para chegar no peso
aproximado do carro carregado e seguir as dicas do manual. Lembre-se: o pneu
dilata com o calor da rodagem. Os pneus devem ser substituídos quando seus
sulcos atingirem a profundidade de 1,6 milímetros, facilmente visível ao se
observar as ranhuras inferiores, indicadas pela sigla T.W.I. (Tread Wear
Indicator). Independente de qualquer coisa, caso haja bolhas ou deformações, o
pneu deve ser prontamente substituído. Lembre-se: os pneus atuais são compostos
por malhas de aço, que se deformam em pancadas muito fortes em crateras,
meio-fios etc. Se isso acontecer, troque o par, nunca apenas um pneu.
Entenda, sempre, as siglas estampadas
nas laterais dos pneus. É uma excelente maneira de não comprar gato por lebre.
Além de um espacinho escrito DOT, que determina a idade do pneu (começa com as letras "DOT", e os
últimos quatro números fornecem a data de fabricação, sendo os dois primeiros a
semana e os dois últimos o ano), normalmente encontramos legendas assim:
195/55 R 15 87W. Então, 195 é a largura em mm, 55 é relação entre a altura e a
largura do pneu = 0,55, R é a estrutura do tipo Radial, 15 é o
diâmetro interno do pneu, em polegadas, 87 é o índice de carga do pneu, neste
caso corresponde a 545 Kg e W é o código de velocidade do pneu, neste caso
corresponde a velocidade máxima de 270 Km/h. Um exemplo mais comum, como o pneu
indicado para um Volkswagen Gol G5 é o 175/70 R14 82T. Significa que tem
175mm de largura, 70 de relação entre a altura e a largura (perfil), Radial, para roda de 14
polegadas, suporta 475 kg e sua velocidade máxima antes de dechapar é de 190
km/h.
Se você, como a maioria das pessoas,
não tem tempo para estudar tudo isso, mas não gosta de ser passado para trás,
consulte um profissional. Os autocenters estão aí para isso mesmo. Escolha o
que representa a marca de pneus de sua preferência e encontre lá as informações
e a manutenção necessárias. Aproveite essas visitas e revise ponteiras de
direção, terminais, amortecedores e molas. É sempre muito mais barato prever do
que remediar.
Parabéns, pelo texto. Porém creio que os pneus melhores devem estar na dianteira e não na traseira, pois recebem maior carga de frenagem e também porque é ali que você controla o carro. Grato.
ResponderExcluir