Os coupé esportivos, aqueles carros
pequenos, para dois passageiros – quem quer carregar mais gente compra um
sedan... – sempre pautaram as agendas de projetos e lançamentos principalmente
das montadoras europeias. A indústria norte-americana também faz lá suas
intervenções no segmento, assim como algumas montadoras asiáticas, mas quem
entende mesmo desse riscado são os europeus. Entre diversos modelos desses
pequenos misseis, – em geral são pequenos e muito potentes – encontra-se a nova
versão do francês Peugeot RCZ, lançado em 2010. Inicialmente apresentado como
carro-conceito em 2007, com o nome 308 RCZ, é hoje comercializado em 80 países,
o que demonstra sua grande aceitação no mercado, o que levou a montadora a
atualizar o RCZ R para 2014, uma vez que as concorrentes acusaram o golpe mas
não estão mortas!
Os brasileiros normais se
familiarizaram com o termo “míssil” em meados de 1987, quando Fausto Fawcett
achou que era cantor, e infernizou os ouvidos brasileiros com Kátia Flávia, que
ele achava que era musica, onde mencionava o míssil francês anti-navios Exocet,
enquanto uma loira que achava que dançava ficava se retorcendo ao som de
bate-estaca. Muitos modelos de carros, desde então, foram associados aos
misseis em geral, mas poucos merecem essa associação como o Peugeot RCZ R.
A Peugeot, montadora franco-italiana
(pertence ao grupo PSA Peugeot-Citroën, sob controle total da Fiat) criou o
coupé esportivo RCZ no Peugeot Design Lab, em Paris, e entregou o trabalho de
desenvolver, estampar e montar sua nova criação para a Magna Steyr AG & Co,
em Graz, na Áustria. Muitas vezes, é bem mais barato terceirizar todas as
etapas da produção de um modelo, do que criar toda a linha própria para isso. E
empresas especializadas no processo recebem a missão de produzir esses modelos,
como é o caso da canadense Magna International, cujas linhas de montagem da
filial Magna Steyr entregam, além do Peugeot RCZ R, os Mini Paceman e Country,
Mercedes-Benz SLS AMG, Aston Martin Rapide, BMW X3, Audi TT e outros veículos de pequena produção
mensal, mas que exijam alto nível de qualidade e acabamento. Sua capacidade de montagem atinge a
marca de 200 mil veículos por ano, sendo a maior fabricante de automóveis por
contrato em todo o mundo. Por que expliquei tudo isso? Porque há tempos venho
mencionando o fato de que, atualmente, nem sempre as marcas que os veículos
ostentam significam, necessariamente, que sejam produtos dessas marcas, e isso
não é nenhum demérito, é a maneira encontrada para minimizar custos sem reduzir
o padrão pretendido.
O RCZ R é a evolução, principalmente
em potência, do já conhecido coupé esportivo RCZ. Seu novo motor, embora seja
novamente um quatro cilindros em linha com 1,6 litros, tem 260 Cv de potência
máxima e impressionantes 170 Cv por litro, o que o torna o modelo em série mais
“poderoso” da história da Peugeot, tornando o THP – Turbo High Pressure – um
marco na engenharia de motores. Baseado na atual linha THP200, as unidades
destinadas ao RCZ R recebem, além de softwares totalmente modificados, injeção
direta de combustível, pistões forjados de alumínio, bielas forjadas,
rolamentos e o próprio bloco do motor revestido com polímeros especiais. Mas o
mais importante é o turbo-compressor tipo Twin-Scroll. A, você não sabe o que é
isso? Também é da legião dos que acham que “turbo é tudo igual”? Hum... está na
hora de você rever seus conceitos... o turbo-compressor tipo Twin Scroll, ou Dividido, tem duas entradas
de gases queimados do coletor de escape, contra apenas uma entrada dos
turbo-compressores mais conhecidos. Com uma arquitetura onde o motor tem os
comandos de válvulas de alto desempenho, podendo abrir-se as válvulas de
escape, em cilindros diferentes, ao mesmo tempo, sobrepondo-se no final do
curso de compressão de um cilindro e no fim do curso de escape de outro; como o
coletor de escape é desenvolvido em função do turbo-compressor Twin Scroll, logicamente
separa fisicamente os canais dos cilindros que podem interferir uns com os outros, de modo que o fluxo
de gases de escape seja empurrado em espirais separadas – ou seja, Scroll. Além
de tudo, isso permite a diminuição da temperatura dos gases de escape, melhora
a eficiência da turbina e reduz o indesejado turbo lag, aquele tempo
necessário para o sistema de escape gerar impulso, a partir da inércia, vencer
o atrito e carregar o turbo-compressor, efeito que não existe em um motor
naturalmente aspirado.
Para transferir a potência com o mínimo possível de
perdas, a Peugeot optou por um câmbio manual de seis marchas, acoplado a um diferencial
tipo Torsen (Torque Sensing, Sensível ao Torque), que funciona
como um diferencial convencional, quando a quantidade de torque é igual em cada
roda, até que uma roda comece a perder atrito, e a diferença de torque faz as
engrenagens do diferencial Torsen se acoplarem, transferindo esse torque para a roda estável
antes que patine de fato.
Como não poderia deixar de ser, o Peugeot RCZ R vem recheado com toda a
eletrônica disponível e todas as suas siglas, o interior é esportivo, porém com
bastante luxo e conforto. Suas dimensões são 4.294mm de comprimento, 1.845mm de
largura e 1.352mm de altura, todo construído em alumínio, com peso total de
1.280 kg, e sua relação peso-potência é de 4,9 kg para 1 Cv de potência,
acelerando de 0 a 100 km/h em 5 segundos e atingindo a velocidade máxima de 235
km/h. Seu principal adversário será o Audi TT.
O lançamento oficial do Peugeot RCZ R
(cuja sigla não significa absolutamente nada, provavelmente alguém consultou um
catalogo de letras e siglas, juntou RCZ + R, achou que ficou bom e pronto, estava batizado o modelo), será em
setembro, durante o Frankfurt Motor Show, e estará disponível no mercado em
2014, a um preço aproximado de £ 30.000, algo em torno de R$ 105.000,00 na
Europa, e, se a filial brasileira resolver trazê-lo para o nosso mercado, o
preço deverá ser bem salgado...
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