quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Cadillac Coupé Serie 62: Inigualável!



Os europeus inventaram os automóveis, criaram seus conceitos e padrões, e difundiram, de alguma maneira, a necessidade humana de se movimentar sem ser pelas próprias pernas ou no lombo de cavalos. Demorou um pouco, mas o medo que as estranhas e barulhentas maquinas infundiam nas pessoas desapareceu, e logo os automóveis se tornaram objeto de desejo e símbolo de status. Nos Estados Unidos as coisas não foram diferentes; colonizado por europeus, e com uma mania de querer ser melhor e mais importante do que seus colonizadores, os norte-americanos desenvolveram seu próprio conceito sobre automóveis onde, ainda hoje, o que não tem um motor com mais de seis cilindros e dimensões navais, não é visto como um “automóvel de verdade”. Uma das mais emblemáticas marcas estadunidense de carros gigantoscópicos não poderia ser outra, claro, senão a Cadillac.

Fundada em 1902 por Henry Martyn Leland como Cadillac Automobile Company – nome que é uma homenagem a Laumet Antoine de La Mothe, Sieur de Cadillac, fundador de Fort Pontchartain du Détroit, que mais tarde viria a ser a conhecida Detroit, no estado de Michigan (cuja capital, ao contrário do que quase todo mundo imagina, é Lansing...) – após produzir motores para Ransom Eli Olds e diversos projetos Henry Ford. Inovando a indústria de então, a Cadillac do engenheiro Leland, que “aposentou” as manivelas, ao instalar o primeiro motor de partidas em um automóvel, que já pertencia a General Motors Company desde 1909, trouxe o designer Harley Earl para projetar as carrocerias de seus modelos a partir de 1927. Era o fim dos carros projetados por engenheiros, que entendem muito de soluções técnicas e nada de estilo. No ano seguinte, a Fisher e a Fleetwood, que produziam as carrocerias para a Cadillac, foram incorporadas pela GMC, o que contribuiu bastante para o aprimoramento da linha de automóveis da marca, junto aos métodos de precisão criados por Leland e ao pioneirismo no uso de tecnologias de ponta, criando então a imagem de luxo, qualidade e confiabilidade em torno da marca, tudo elevado a 8 ͣ potência quando a classe artística de Hollywood resolveu emprestar seu prestígio e glamour à marca, seguida pela adoção dos Cadillac para os chefes de estado, membros da nobreza, magnatas, artistas de outras áreas e intelectuais renomados. A receitinha básica, mas que funcionou – e funciona – as mil maravilhas: celebridades ganham para aparecer em público com o que quer que seja, e pronto... todo mundo sai correndo para comprar um igual!

Entre todos os modelos e versões criados pela Cadillac, um dos mais marcantes e revolucionários foi, sem dúvida, o coupé Serie 62 lançado em 1959. Foi nessa época que a GMC criou a Carroceria-C para os grandes carros de suas divisões. Para a Cadillac, isso significou a possibilidade de criar um estilo diferenciado, mais curvilíneo, sendo então a resposta que precisava dar ao Chrysler Imperial 1957. O enorme para-brisa curvado, as colunas finas, o imenso rabo-de-peixe, com as lanternas tipo foguetinhos, o nada pequeno vidro traseiro, tudo no Coupé Serie 62 era exageradamente super-dimensionado, inclusive seu tamanho, já que o coupé media mais de 5 metros de comprimento, e seu design é, provavelmente, um dos mais lembrados do século 20. Para compensar todos os excessos, a Cadillac teve de rever as suspensões no sistema de direção hidráulica, além do motor V-8 6,4 litros, que teve sua potência elevada para 345 Cv. O câmbio, automático, era de 4 velocidades, outro avanço para a época. Para completar a linha, a montadora oferecia uma versão conversível do Serie 62. Será divertido ler isso, mas os preços dos Cadillac 1959 foram invariavelmente os mais altos do mercado na época. Um verdadeiro absurdo. Custavam entre US$ 5.000 a US$ 7.400... e foram vendidos mais de 142.000 unidades naquele ano!

Hoje em dia, o Cadillac Serie 62 1959 é um dos carros mais adorados por restauradores e colecionadores de todo o mundo. O índice de dificuldade em encontrar unidades a venda, já restaurados ou “no estado”, é relativamente baixo, em função do alto volume de suas vendas. Aqui no Brasil, um país de loucos, existem alguns exemplares a venda, para restauração... por absurdos R$150.000,00 em média, enquanto seu valor, nos Estados Unidos, fica na média de US$ 25.000, algo em torno de R$ 50.000,00, pronto, rodando, impecável, carro de exposição. Com no máximo US$ 10.000 (ou R$ 20.000,00), o interessado encontra diversas ofertas de venda para restauro. Que me desculpem os importadores brasileiros, mas o carro não custa, nunca, 10 vezes o seu valor de compra só porque viajou de navio até aqui. Querer algum lucro é compreensível e correto, mas querer uma ganhar tanto por unidade é falta de inteligência. De quem vende e de quem compra.


Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com

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