terça-feira, 10 de setembro de 2013

Turbocompressor: Como funciona?



Não tem muito tempo, o Blog True Car publicou uma matéria técnica, bastante ilustrativa, com relação aos motores que as montadoras denominam como Supercharger. Naquela matéria, eu prometi explicar, também, o funcionamento dos Turbocompressores, e é exatamente o que farei a partir de agora. Vamos lá?

Para começar, vamos as diferenças: Os nomes são parecidos, já que um é Compressor, ou Charger, e outro é Turbocompressor. Tanto um sistema quanto outro, são apêndices de sobre-alimentação, ou indução forçada, para o motor. Suas funções não são outras senão comprimir o fluxo de ar para o motor. Ar? Não era combustível? É, combustível, mas sem o ar, na medida exata, o combustível não explode e o motor não funciona. Mais para frente chegamos nesse assunto. O objetivo de comprimir o ar é colocar mais ar dentro dos cilindros do motor, do que no sistema naturalmente aspirado – como são todos os motores antes de receberem esses apêndices. Com um ou outro, mais ar e mais entram e obtém-se mais potência de explosão em cada cilindro, uma vez que um Turbocompressor ou um Supercharger proporciona entre 6 a 8 libras/pol² (Psi) ou 0,41 a 0,55 bar de pressão sobre os 14,7 lb/pol2 ao nível do mar (1,01 bar de pressão atmosférica normal), o que dá aproximadamente 50% a mais de ar no motor, o que deveria proporcionar 50% a mais de energia, só que nenhum dos dois sistemas, isolados, são perfeitos, e o máximo a que se pode chegar é uma melhora de aproximadamente 30% a 40%. Sabendo-se disso tudo, finalmente as diferenças entre um Turbocompressor e um Supercharger é a fonte de energia, já que alguma coisa tem de move ambos os compressores. O Supercharger, como vimos na outra matéria, é acionado por uma correia ou engrenagens, pelo próprio virabrequim. O Turbocompressor é um compressor centrífugo, acionado pelo fluxo de gases do escapamento, que passa pelo rotor da turbina e aciona o rotor do compressor – um rotor de cada lado, acionados por um eixo único. Teoricamente, o Turbocompressor é mais eficiente por utilizar a energia cinética dos gases queimados pela explosão para funcionar, e não “pesa” no motor como o Supercharger, mas essa eficiência é relativa, ao se observar que o Turbocompressor cria contrapressão no sistema de escape, e só funcionam bem em rotações elevadas... exatamente o contrário do Supercharger, que só atua bem em baixas e médias rotações. Adiante, você entenderá porque volta e meia eu friso essa diferença. 


Muito bem, com o aumento da densidade do ar causado pela compressão forçada pelo Turbocompressor, tem-se de adicionar mais combustível para equilibrar a mistura que será empurrada para a câmara de combustão, que produzirá mais energia a cada ciclo. Isso porque, com 1 kg/cm² de sobrepressão, o motor estaria trabalhando com 2 atmosferas, que é o dobro de ar que estaria no mesmo espaço físico, porém sem alterar as dimensões do cilindro. Então, a matemática elementar nos diz que devemos dobrar a quantidade de combustível nesse ar comprimido, para que a mistura permaneça estequimétrica – equação química, usada em termodinâmica para em referencia a mistura perfeita de ar e combustível – mas não é o que acontece, e não se consegue dobrar a potência do motor assim porque o excesso de compressão e a velocidade da turbina, que chega a 150 mil Rpm, 30 vezes mais do que no motor naturalmente aspirado, aquece demais o ar, reduzindo sua densidade, e se não for empregado um Intercooler – trocador de calor – a perda causada por esse efeito é muito grande, e a energia extra fica, mesmo, na casa dos 30% a 40% e só. E em giros altos. Frisei de novo.
 Sabendo de tudo isso que já sabemos, então é só ir ali na lojinha, comprar um Turbocompressor e colocar no carro, né? Não. Nos carros mais velhos, com carburadores, é muito mais fácil aumentar a entrada de combustível, trocando giclês, injetores e arrombando venturis e janelas, para se ajustar ao novo fluxo de ar que entrará nos cilindros. Nos carros atuais, com injeção eletrônica de combustível, as coisas se complicam, e não é mais na oficina do Zé que consegue-se instalar e acertar adequadamente um Turbocompressor.  Isso porque qualquer um dos sistemas de injeção depende de sensores de oxigênio, no coletor de escapamento, que lêem se a relação ar-combustível está correta, e quando a leitura mostrar que está faltando combustível, os módulos tentarão corrigir a falha automaticamente, tentando enviar mais combustível para a mistura. Se os cálculos não forem corretos, esse sistema vai falhar e não fornecerá combustível suficiente, porque o software do módulo de injeção não permitirá que isso ocorra, já que nem a bomba, tampouco os bicos injetores, serão capazes de acompanhar o fluxo necessário. Aí, outras modificações terão que ser feitas, e, como eu disse, não adianta mais ir em qualquer oficina, sem recursos computadorizados. Então, cuidado; de Professores Pardais o mundo está cheio e o Brasil mais ainda. 
 Bom, eu frisei várias vezes que ambos os sistemas de sobrealimentação do motor são ineficientes. As montadoras sabem disso, e o custo de um Supercharger ainda é bastante alto, por conta de sua usinagem. O Turbocompressor é bem mais barato, mas também é um componente dispendioso. Lembre-se que qualquer montadora sangra literalmente quando tem de acrescentar um Dólar que seja em sua linha de montagem. Dessa forma, entendem que é mais negócio aumentar a compressão interna do motor, reduzindo sua durabilidade e escondendo  a ineficiência da aspiração natural, do que dotar o motor com compressores para resolver de ver o problema. Interessante que a indústria de motores aeronáuticos não pensa assim, e desde a II Guerra Mundial os motores a hélice são Turbocomprimidos. No entanto, parece que uma luz anda brilhando no fim desse túnel, e essa luz é proveniente da alemã Audi. Me é absolutamente impossível acreditar que apenas a montadora de Ingolstadt tenha descoberto o sistema que vem empregando, até porque suas maiores rivais, a BMW e a Daimler-Benz, já conheciam todos os truques, uma vez que forneceram motores para a Força Aérea Alemã. Vamos ver afinal que luz é essa, que de nova não tem nada, mas virou coqueluche:
Como sabemos agora, o motores com Supercharger, por serem mecânicos, não apresentam o chamado turbo-lag, que é essa ausência de atuação do Turbocompressor em giros mais baixos, por serem acoplados diretamente ao virabrequim, o que consume parte da energia extra que geram. Sua construção, embora mais simples por não ser necessária a válvula de alívio de pressão (Wastegate, Popoff ou Blowoff), que é regulada pela relação dos diâmetros das polias, o que limita sua eficiência em giros altos, e como já mencionado, sua usinagem é bastante cara. O Turbocompressor, por seu lado, aproveita a energia que seria jogada fora, para aumentar a massa de ar para o motor, em giros mais altos, e sua construção é bem mais em conta. A esmagadora maioria dos motores dos modelos de médio porte para cima tem configuração em V, ou mesmo VR, como gosta muito a Volkswagen (é em V, bem estreito, com apenas um cabeçote). A instalação de um Turbocompressor em motores em V são complexas, geralmente com uma unidade em cada lado, a conhecida configuração Twin-Turbo, enquanto o Supercharger tem encaixe natural. Então, como um supre a deficiência do outro e, juntos, produzem um motor fenomenal, a Audi está equipando praticamente todos os seus modelos com motores – em linha e em V – batizados como TFSI – Turbo-Charged Fuel Stratified Injection – que, como você já deve ter deduzido, trata-se da união das duas tecnologias, porém ambas ainda mais desenvolvidas, por empregar um Supercharger tipo Root já na versão TVR, que “empurra” o motor das baixas até as altas rotações onde seu funcionamento “apaga”, momento esse em que entra em ação o Turbocompressor, com resfriador do ar de admissão, para completar o serviço de aumentar cada vez mais a potência, apoiados pela injeção direta estratificada de combustível (é injetada diretamente na câmara de combustão, e não no coletor de admissão). Assim, seu motor de 4 cilindros em linha, 2,0 litros de volume tem 200 Cv de potência. Seu V10, 5,2 litros de volume, tem 550 Cv. Viu como se aproxima muito a relação volume x potência? Só a Audi descobriu isso? Bom, se foi isso ou não, o fato é que finalmente encontraram a fórmula de se arrancar o máximo possível de potência de um motor sem mexer dentro dele. O fato de que metade dessa potência continua sendo jogada fora, é outra conversa!

Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com
Oferecimento – Bana Motors www.banamotors.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário